O BAÚ DAS LETRAS

Livros, Leituras e muito mais...

segunda-feira, 20 de junho de 2011

AOS SÁBADOS ACONTECE… BAÚ DAS LETRAS!

Aconteceu no dia 18 de Junho …
Tema: poesia portuguesa

A poesia para crianças, em Portugal, atinge maior fôlego em termos de quantidade e qualidade a partir da segunda metade do século XX. Na senda de uma revalorização e transfiguração dos moldes tradicionais deste modo literário, sobretudo através do modo como a criança e a educação são perspectivadas, há alguns nomes precursores que marcam lugar na História literária nacional.

Matilde Rosa Araújo (uma verdadeira fada das letras lusas), António Torrado (muitas vezes invocado como o Hans Christian nacional tem também uma produção com elevado sentido poético) ou Maria Alberta Meneres (co-autora de muitas obras com António Torrado) fazem parte daquela que é considerada a (primeira) era dos clássicos da literatura (dita) para crianças e jovens (terá a qualidade estético-literária destinatários só desta idade?), pelo que aqui deixamos um cheirinho da poesia de Maria A. Menéres com um poema que se chama, exactamente, “O nariz”.

O nariz
Eu tenho um nariz de giz
que toda a gente me diz
com ares de grande juiz
que parece uma perdiz
mas a perdiz do juiz
sempre ouvi dizer que quis
transformar-se em codorniz
por causa dos imbecis
que diziam ao juiz
tu tens uma nariz de giz
ora o juiz nunca quis
ser dono de tal nariz
e deu-o a um petiz
que ainda era aprendiz
de caça da codorniz
e que um destino infeliz
fez dono de tal nariz


mas o petiz do nariz
com o giz desenhou X
na careca do juiz!

In MENÉRES, Maria Alberta
Conversas com versos
Porto: Asa, 2005. , 74, [3] p. : il. ; 21 cm. ISBN 972-41-4007-5

Luísa Ducla Soares (exímia na arte do humor em verso), Álvaro Magalhães (um vate filósofo para miúdos e graúdos), Manuel António Pina (de diminuta mas extraordinária produção poética e metapoética assente numa criatividade fulgurante) ou Jorge Sousa Braga pertencem, no fundo, a uma segunda geração de grandes cultores da linguagem poética.

Prolífico autor e tradutor da lit. para adultos, mas com vários, inusitados e interdisciplinares trabalhos(Herbário, por ex., é um título que é, no fundo, um passeio poético pela área da botânica, Pó de estrelas é uma incursão da poesia na astronomia), Jorge Sousa Braga presenteia-nos constantemente com obras poéticas no campo infanto-juvenil sempre felizes.

A orquídea
A orquídea
parece um manequim.
Só veste peças únicas,
feitas por medida,
de seda ou de cetim.


A erva daninha
Sou uma erva daninha.
Nem princesa, nem rainha.
Não tenho eira nem beira.
Nem ninguém que me queira.
Comigo ninguém se importa.
Todos me querem ver morta.
Sei que sou amaldiçoada.
Porque não sirvo para nada.
Mas a culpa não é minha,
De ser uma erva daninha.
Inventaram o herbicida,
Para me complicar a vida.
Mas isto não fica assim.
Vamos ver quem ri por fim.

Nem princesa nem rainha.
Sou uma erva daninha.

In BRAGA, Jorge de Sousa -
Herbário
Lisboa : Assírio & Alvim , 2002. , 57 p. : il. ; 24 cm. ISBN 972-37-0549-4

Pertencente a uma 3ª. geração de poetas que, infelizmente e até agora, ainda não constitui uma plêiade, destacamos João Manuel Ribeiro com uma actividade poética por vezes parodística, outras vezes “apenas” deliciosamente sensível e atenta às pequenas grandes minudências da vida que a insuflam de vida interior, riqueza e densidade. Aqui ficam algumas sugestões de (re)descoberta:

A tia Anica
A tia Anica
que era de Loulé
tanto rodopiou
pelo mundo
e à volta de si
que não sabe já
de que terra é!

O Pinóquio
O Pinóquio
foi a um colóquio
meter o nariz
no que se diz
sobre a verdade.

Ritinha, estrela d’ água
A Ritinha tem
no meio do coração
uma estrela d’água:
água doce, água boa,
água limpa, água perfumada.
É por isso que a Ritinha
chora tanto de alegria:
uma alegria doce, alegria boa,
alegria limpa, alegria perfumada.
A estrela que a Ritinha tem
no meio do coração
é como a água mole em pedra dura:
a sua luz é tão intensa
e tanto nos ilumina
que fura,
fura,
fura.

Entrelinhas
Fiz trinta por uma linha
e oito por um cordel
para que fosses minha
na vida e no papel.

Fiz das tripas coração
e do coração um cesto
para te levar pão,
fruta e tudo o resto.

Fiz um pé-de-vento
e da brisa um balancé
para te dar assento
e ficar de pé.

Fiz juras de amor
e outras coisas tais
para ser teu senhor
e escravo demais.

Fiz de mim gato-sapato
e outras figurinhas
por te amar no retrato
e nas entrelinhas.

In RIBEIRO, João Manuel
Rondel de rimas para meninos e meninas
Vila Nova de Gaia: Trinta por uma linha, 2008., 23 p.: il.; 21 cm. ISBN 978-989-95696-0-7

Eis algumas fotos deste sábado em que tivemos ainda tempo para ilustrar alguns dos textos explorados e revisitar o livro do Baú das Letras, todo ele hand made pelo nosso amigo e  leitor Carlos Pinto, a quem muito agradecemos, mais uma vez:






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